
Richard Serra é um dos escultores em metal mais significativos e importantes da atualidade. Famoso por suas peças de metal gigantescas, objetos espantosos devido ao seu peso e opacidade.
Um artista que dialoga com o espaço e brinca com a noção do tempo. Com suas obras monumentais nos convida a participar de sua viagem por uma cidade, um labirinto, uma casa sem tetos, ou por onde mais a sua imaginação e as suas sensações te levarem.
Richard Serra é um homem de olhar atento e mãos pequenas e inquietas. Bastante inquietas. Pois é com gestos, mais do que com palavras, que ele descreve seu trabalho.
BIOGRAFIA
Richard Serra nasceu na Califórnia em 1939.Emergiu no circuito artístico de Nova Iorque seguindo influências da Arte Povera e do Minimalismo o qual faziam parte Donald Judd, Robert Morris e Frank Stella.
Richard Serra, nasceu em 1939 nos EUA e começa sua carreira produzindo telas expressionistas na faculdade, mas logo foge para a escultura. A abstração parece ser o grande ponto desse artista que em vários momentos de sua carreira explodiu em raiva, brigas, discussões e decisões judiciais em defesa do que acredita.
Conhecido no meio das artes por ser altamente controverso, orgulhoso, briguento Richard Serra possui uma opinião sobre o fato de ser artista que considero um dos maiores, senão o maior incentivo para fazer arte. No programa de entrevistas do americano Charlie Rose, Serra uma vez comentou que sabe desenhar melhor que um arquiteto, e isto é uma das atribuições para que ele seja considerado artista e Frank Gehry, não. Serra não tinha qualquer desavença com Gehry, eram até amigos próximos. Falando isso, Serra quis dizer que trabalhos de arte são “intencionalmente inúteis, que suas significações são poéticas, internas”, enquanto o trabalho do arquiteto tem de ser transposto de acordo com as necessidades do cliente e das utilidades da construção, por mais escultural que seja o exterior. Não tendo assim o arquiteto a “obrigação” de saber desenhar, utilizar tintas, ou de fato ter de trabalhar com a obra de forma “manufatural”. Ele entende que suas idéias não têm de obedecer às demandas de um mercado extremamente ligado as tendências e decisões alheias.
Na década de 60, quando se aperfeiçoava como pintor na Europa, Serra ficou fascinado diante de As Meninas de Velázquez, pela maneira que o artista relacionou o espectador e os personagens retratados por ele em 1656. O escultor também queria envolver o observador diretamente no seu trabalho e, achando que não poderia fazer isso em duas dimensões, decidiu abandonar a pintura e tornar-se escultor. Serra diz ter renunciado da pintura abstrata após ter visto de perto o famoso As Meninas, de Velázquez, julgando-se incapaz de produzir algo de tamanha beleza.
Logo após começa a trabalhar com o aço e a perceber a força e estabilidade que este material proporciona, placas de aço com diferentes comprimentos e alturas aplicadas ao meio urbano ou rural, mudando a percepção do local e do transeunte.
Nesta mesma época iniciou experiências com combinações invulgares de materiais e técnicas (como borracha,metais e lâmpadas).
AUTOR E OBRA
Em 1970, conseguiu o equilíbrio exato entre as placas de aço,apoiadas entre si sem a ajuda de um suporte externo, o que permitiu a transição para uma concepção da escultura cujas possibilidades combinatórias ainda são experimentadas na atualidade.
As proporções das esculturas de Serra chegam a amedrontar quando se vê que não há nada para sustentá-las além do que, para leigos em física, é um equilíbrio incompreensível.
Peças que pesam toneladas e possuem autossustentação (algo defendido desde sempre por Serra como uma condição para a criação destas obras). Não há pregos, amarras ao chão, fundações ou outros meios para manter as esculturas estáveis. Apenas a gravidade aplicada à massa do aço somados a cálculos precisos fazem tais estruturas manterem-se em pé,
muitas vezes sendo curvadas e inclinadas em ângulos surpreendentes.
Suas esculturas encontram-se em cidades como Nova Iorque,Paris e Londres. Uma das características do trabalho de Serra é que suas esculturas são concebidas tendo em mente já um local específico; ele define um espaço na paisagem, sendo a escultura não apenas o objeto em si, mas a sua localização e as relações que define com o meio, urbano ou não.
Desde a década de 70 que as obras de arte de Richard Serra expostas em público, a maioria delas grandes estruturas de aço,contribuíram para alterar a percepção que o espectador tem do espaço. Todas as suas esculturas refletem uma preocupação pelo que pode ser verdadeiramente experimentado e observado: algumas revelam o processo da sua produção, outras esclarecem aspectos das suas propriedades físicas e outras ainda redefinem a natureza do espaço que ocupam.
Com o objetivo de envolver o espectador com sua obra, Serra não só provocou uma nova forma de interação com a escultura, como também ampliou as fronteiras e a definição dessa arte. O centro de gravidade e o equilíbrio, a massa e o vazio, a percepção do espaço e a consciência corporal por parte do espectador constituem os temas básicos de sua obra, que elabora com blocos sobre dimensionados e pranchas de aço.
As obras do escultor têm relevância inclusive entre arquitetos,que ressaltam a sua importância como um dos mais instigantes críticos de arquitetura da atualidade. Seu trabalho confronta o indeterminado, a insatisfação. Arquiteto às avessas, Serra força os limites do espaço e investe na sua transformação, dando nova vibração à presença do homem no mundo. Sua contribuição inegável à arquitetura está fundamentalmente em não aceita-la como um “continente isolado”, mas tomá-la como um lugar onde o artista atua para estruturar espaços, explorando novas possibilidades e direções. Por princípio, portanto, uma intervenção de Serra é em si mesma um desafio e uma crítica à arquitetura.
O próprio artista reforça que sua obra, para ser compreendida, não exige conhecimento prévio sobre a história da arte ou da escultura:
“O que sente aquele que entra nas minhas estruturas é o tema delas. O que me interessam são as sensações que ocorrem ali dentro, mais do que o efeito estético do conjunto”.
TILTED ARC
Em 1987, expôs na Federal Plaza em Nova Iorque o seu TiltedArc (Arco Inclinado), uma placa de metal curva de 3,6 metros de altura, cujo aspecto variava segundo as condições meteorológicas,que suscitou uma viva polêmica e foi retirada do local após mobilização dos habitantes (de uma área nobre de Nova Iorque) que consideravam a escultura ofensiva, alegando razões surrealistas para fazer o trabalho de demolição, desde a possibilidade de favorecer acúmulo de detritos até ser usada como escudo por terroristas. Além de que, muitos não gostavam do paredão de aço, achavam intimidadora, achavam que ia cair a qualquer momento, mas esse estranhamento era esperado. Diziam que a demolição era necessária pois a obra favorecia uma possível proliferação de ratos e era inútil por desabilitar o local para eventos públicos.
Serra afirmou que a escultura tinha sido concebida especificamente para o local e que a sua remoção era equivalente a destruí-la. Em 1989, a peça foi desmantelada e depositada, fragmentada, num ferro-velho.
É possível afirmar ainda que as obras ou instalações Site Specific remetem à noção de arte pública, que designa, em seu sentido corrente, a arte realizada fora dos espaços tradicionalmente dedicados a ela, os museus e galerias. A ideia que se trata de arte fisicamente acessível, que modifica a paisagem circundante, de modo permanente ou temporário. Algumas obras de Richard Serra (1939) que exploram a relação com o ambiente, sobretudo pela intervenção no espaço urbano, são por ele mesmo definidas como Site Specific, por exemplo o

The Matter of time é uma série composta por oito esculturas: Torqued Spiral (Closed Open), 2003; Torqued Ellipse, 2003-04;Double Torqued Ellipse, 2003-04; Snake 1994-97; Torqued Spiral(Right Left), 2003-04; Torqued Spiral (Open Left Closed Right), 2003-04; Between the Torus and the Sphere, 2003-05 e Blind SpotReversed, 2003-05.
O conjunto desta obra pesa cerca de 1200 toneladas, tem mais de 430 pés de comprimento e foi criada pelo escultor para o Museu Guggenheim de Bilbao.
As esculturas em aço de grande escala, que compõem essaobra, erguem-se como muros, labirintos. Para se visitar uma escultura de Serra é preciso entrar nela, entrar fisicamente, interagir,sentir a textura, o frio do metal, elas são uma espécie de cidade, de retorno da cidade. É preciso se perder nelas, perder-se para elas, se entregar as sensações, aos sentimentos que elas despertam.
A experiência do espectador, medida em tempo e movimento durante seu trajeto por maciças e sinuosas paredes de aço laminado,é um aspecto essencial na obra criada pelo escultor. O sentido desta criação é ativado pelo ritmo do movimento de cada espectador.
Este conjunto de esculturas se baseia na idéia de temporalidade múltipla, de tempos que se sobrepõem. A duração da experiência de uma peça é diferente à da outra. Por um lado a experiência é interna, privada, psicológica e estética, e de outro, é externa, social e pública. O espectador mergulha em uma viagem,cujas descobertas dependem de sua vontade de investir seu tempo e deixar que suas memórias se fundem na percepção.
Ambas as criações de Serra nos instigam, nos provocam, nos fazem querer ser parte da obra. Andando, caminhando, correndo,tocando, sentindo, olhando, admirando, se permitindo esse tempo,essa brincadeira de se perder e se achar, nessa e para essa sociedade voraz que escolhemos viver.
WALKING IS MEASURING

Esta é uma obra de Arte Pública que ficará permanentemente instalada no Parque de Serralves e, no seu gênero, é a primeira deste artista norte-americano a ser instalada na Península Ibérica.
Richard Serra explica a obra que projectou para o Parque de Serralves, Cidade do Porto, Portugal:
“A escultura “Walking is Measuring” (“Andar é Medir”) está instalada num caminho entre uma fila de árvores e o antigo muro que rodeia o terreno do Museu de Serralves, separando-o da cidade. Esse caminho é um dos poucos locais que não foram alterados pela construção do novo museu e mantém o seu caráter original. O muro de pedra eleva-se a uma altura que vai de 3,5 metros a 5,5 metros ao longo de uma distância de várias centenas de metros. A escultura é composta por dois elementos de aço que têm a mesma altura do muro no seu ponto mais baixo e no mais alto. A placa de aço instalada junto ao ponto mais alto do muro é igual à altura deste, alinhando-se igualmente com a cota mais alta do novo museu. Este alinhamento torna óbvia a relação do velho muro com o museu, estabelecendo deste modo a percepção de escala para todo o contexto. A escultura mede a continuidade espacial do caminho e introduz a escala humana, quando quem o percorre se coloca em relação aos elementos da escultura que servem de medida para todo o contexto. Um bloco de aço perpendicular ao caminho é instalado junto à entrada do museu, que se eleva a uma altura de 5,5 m, igual à altura do muro nesse local. O outro elemento eleva-se a uma altura de 3,5 metros, e é igual à altura do muro do lado oposto do caminho. Ambos os elementos têm 2,5 m de largura e 15 cm de espessura. A seleção deste local deveu-se à intimidade e sensibilidade do velho caminho – uma passagem formada por pedras e árvores onde o construído pelo homem e a natureza se apóiam, complementam e enriquecem reciprocamente. Com a construção do novo museu, perdeu-se a função do caminho, o local foi marginalizado. O objetivo desta escultura é restaurar essa função e devolver ao público a privacidade e a intimidade do caminho histórico".( Richard Serra, Outubro 1999)
CONCLUSÃO
Richard Serra é o maior artista da atualidade. E isso por motivos precisos. Antes de tudo, por ser um dos poucos que ainda acreditam na arte como possibilidade de experiências diferenciadas, uma aventura que nos faça vislumbrar novas relações e um mundo ordenado de maneira menos impositiva. Suas obras têm força e imponência, ainda que essas características se devam a uma instabilidade estrutural, a um equilíbrio constantemente adiado, tanto no que diz respeito à forma de seus trabalhos quanto à sua relação com o lugar em que se instalam.
Richard Serra costuma afirmar que o que lhe interessa "é a possibilidade de todos nós nos transformarmos em algo diferente do que somos, por meio da construção de espaços que contribuam para a experiência de quem somos". E realmente é esse jogo entre generosidade e realismo que preside o seu projeto. Ele coloca a arte moderna num novo patamar, e essa é uma das razões de sua obra ter a importância que tem.
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