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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Música - Especial Mês de Junho

Música 1: Respeita Januário - Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira


Quem gosta de pé-de-serra já deve ter escutado e cantado as músicas de Luiz Gonzaga. Não tem como falar de pé-de-serra e não mencionar o Rei do Baião. Na sessão Música – Especial Mês de Junho esse compositor não poderia ser esquecido e será até bastante citado.

E pra começar, quem nunca cantou a música Respeita Januário ou pelo menos seu refrão: “Luiz, respeita Januário!”? Mas já pararam pra pensar como Luiz Gonzaga compôs essa música ou em que situação? Eu também não sabia o significado dessa música. Quando o descobri achei tão interessante que me veio a idéia de abrir essa sessão no blog e, portanto, ela foi a escolhida pra ser a primeira. Eis que abaixo trago a história de composição dessa música, narrada pelo próprio Luiz em uma das versões da canção. Salve Luiz Gonzaga, salve o Rei do Baião!

Esse negócio de matar gente no sertão, já foi trabalho mais maneiro! Menos pra eu! Quis matar um homem, me lasquei: levei uma surra tão danada, uma surra caprichada por meu pai e minha mãe, que eu arribei de casa. Dezoito anos incompletos, 1930. Ingressei nas Forças, revolução como um diabo, tiro como um diabo, nunca dei nenhum! Eu queria era ser artista. Ingressei na RCA, onde estou até hoje, graças a Deus! Aí já era artista, artista do Nordeste, meu sonho. Comecei a sentir saudade de casa. Homi, pelo cartaz que eu tenho, eu acho que já dá pra voltar. Eu quero dar uma surpresa danada a meu pai. A surpresa vai ser tão grande que ele nunca mais vai esquecer na vida dele. Regressei. Cheguei em casa de madrugada. Tô ali, naquela madrugada sertaneja, frente a frente com a minha casa. Chamei. Ô de casa? Ô de casa? Me lembrei do prefixo: Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja Deus louvado! É seu Januário? Sim, senhor. Tô vindo do Rio de Janeiro, Sr. Januario. Trago um recado pro senhor. É do filho do senhor. Mandou até uma coisinha pra lhe entregar. To morrendo de sede. Quando vim de lá traga um copo d’água pra mim. Copo não, traga mesmo um coco. Fiquei olhando pela greta da janela. Aí vinha o velho acender o candeeiro. Escutei o trimbugado do caneco no fundo do pote, no fundo do pote, lá no fundo. Lá vem o velho pelo corredor: caneco numa mão, o candeeiro na outra. Chegou mesmo na janela que eu tava. Arriou o coco d’água no batente da janela, tirou a tramela, abriu a janela em cima de mim. Aí eu senti o cheiro dele, aquele, aquele cheiro antigo, aquele cheiro meu. Ele encadeou-se, levantou o candeeiro acima da cabeça, me interrogou: quem é o senhor? - Luiz Gonzaga, seu filho. - Isso é hora de você chegar em casa seu coisa! Santana! Gonzaga chegou! - Viva Deus! E a meninada: Êeeê! Menino como o diabo, irmão que eu não conhecia, aí ninguém dormiu mais. De manhã cedo, a casa já tava cheia de gente. Aí eu disse: agora eu vou fazer bonito, vou cantar pra esse povo! Desembaiei a sanfona, e mandei brasa. Quando eu pensei que tava agradando, Raimundo Jacó gritou lá do meio do povo: Luiz, respeita Januário, moleque!


E foi assim que surgiu a canção:


Respeita Januário

Composição : Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira

Quando eu voltei lá no sertão
Eu quis mangar de Januário
Com meu fole prateado
Só de baixo, cento e vinte, botão preto bem juntinho
Como nêgo empareado
Mas antes de fazer bonito de passagem por Granito
Foram logo me dizendo:
"De Itaboca à Rancharia, de Salgueiro à Bodocó, Januário é o maior!"
E foi aí que me falou meio zangado o véi Jacó:
Luíz respeita Januário
Luíz respeita Januário
Luíz, tu pode ser famoso, mas teu pai é mais tinhoso
E com ele ninguém vai, Luíz
Respeita os oito baixo do teu pai!
Respeita os oito baixo do teu pai!

(Narrando)

Eita com seiscentos milhões, mas já se viu!
Dispois que esse fi de Januário vortô do sul
Tem sido um arvorosso da peste lá pra banda do Novo Exu
Todo mundo vai ver o diabo do nego
Eu também fui, mas não gostei
O nego tá muito mudificado
Nem parece aquele mulequim que saiu daqui em 1930
Era malero, bochudo, cabeça-de-papagaio, zambeta, feeei pa peste!
Qual o quê!
O nêgo agora tá gordo que parece um major!
É uma casemiralascada!
Um dinheiro danado!
Enricou! Tá rico!
Pelos cálculos que eu fiz,
ele deve possuir pra mais de 10 ontos de réis!
Safonona grande danada 120 baixos!
É muito baixo!
Eu nem sei pra que tanto baixo!
Porque arreparando bem ele só toca em 2.
Januário não!
O fole de Januário tem 8 baixos, mas ele toca em todos 8
Sabe de uma coisa? Luiz tá com muito cartaz!
É um cartaz da peste!
Mas ele precisa respeitar os 8 baixos do pai dele
E é por isso que eu canto assim!

"Luí" respeita Januário
"Luí" respeita Januário
"Luí", tu pode ser famoso, mas teu pai é mais tinhoso
Nem com ele ninguém vai, "Luí"
Respeita os oito baixo do teu pai!
Respeita os oito baixo do teu pai!
Respeita os oito baixo do teu pai!


Um comentário:

  1. carammmmmba até que enfim consigo achar o histórico dessa musica!!valeu mesmo ;)))

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