O Museu Judaico de Berlim é uma obra do arquiteto Daniel Libeskind. A primeira vez que tive conhecimento da obra foi em uma aula recente de Introdução ao Projeto de Arquitetura e Urbanismo, ministrada pela docente Patrícia Alonso, na UFPB.
Me encantei pelo projeto de cara, pois me fascina todo o universo que envolve a II Guerra Mundial. O arquiteto conseguiu de forma espetacular colocar em uma obra arquitetônica toda a atmosfera mórbida que a guerra transmite e principalmente, colocar nas paredes desse edifício o sofrimento do povo judeu.
Daniel Libeskind é um arquiteto judeu-polonês, filho de sobreviventes do Holocausto e o que tornou o seu projeto bem visto foi o fato de que soube materializar as sensações de quem vivencia o edifício, contando a História do Holocausto a cada passo do usuário dentro do museu.
O Museu Judaico de Berlim mostra o papel da arquitetura no contexto histórico-cultural de uma nação, mostra como ela tem o poder de criar um ícone arquitetônico que identifica o sentimento de certo grupo – neste caso, os judeus – e mostra como ela pode nos ajudar a perceber e até sentir as angústias sofridas por este grupo.
- Entenda o projeto!!!
A estrela de Davi possui um significado relacionado a sua estrutura: duplo triângulo, com um dos triângulos de base voltada para cima e outro triângulo de base voltada para baixo. O triângulo sozinho significa “concretização” ou “materialização” e o ato de duplicá-lo e aglutinar os dois triângulos reafirma tal conceito.
No momento em que Daniel Libeskind estilhaça a forma desta estrela, ele transforma seu significado. Considerando o contexto do Holocausto, acredito que a estrela de Davi fraturada representa um sentimento de revolta quanto à barbárie sofrida pelos judeus, representa a necessidade de se explicitar o fato sem eufemismos.
Assim, o assassinato dos judeus pelos nazistas é esquematizado pela quebra do símbolo mais representativo desta cultura, como um grande choque, de onde partem os “estilhaços” que seguem marcando todas as faces do edifício, mantendo sempre presente a memória de um momento impactante. As aberturas do museu são esses próprios “estilhaços”.
O arquiteto faz com que toda visão do visitante para fora do edifício e toda entrada de luz para o mesmo seja feita por meio destas aberturas. Acredita-se também que estas finas aberturas remetem a uma analogia ao transporte dos judeus rumo ao campo de concentração, onde, durante o percurso, eles só podiam visualizar o mundo a sua volta por meio das pequenas frestas que vedavam o veículo. Desta forma, o usuário do espaço passa a vivenciar de forma poética o sentimento dos judeus daquele momento histórico.
O vazio
O vazio que surge no meio do edifício é como a imagem de um abismo e funciona como a espinha para o prédio. Seu significado é muito claro: ausência, ou não-existência. Ausência dos judeus de Berlim, muitos dos quais sucumbiram ao Holocausto. A partir deste raciocínio, a reflexão que surge é a de a ausência não pode ser dominada; a ruptura não poderá ser curada e não poderá ter seu conteúdo preenchido por artefatos museicos. Na imagem ao lado, tentei mostrar onde está o vazio. Olhando atenciosamente se percebe uma linha contínua bem no meio, como uma espinha, que se prolonga por todos os traços do edifício.
Corredores estreitos
No interior do museu, Libeskind lança mão de corredores estreitos como forma de articulação dos espaços. Acredita-se que sua intenção seja transmitir a sensação de repressão e opressão sofrida pelos judeus durante a ocupação nazista na Alemanha. O visitante caminha num espaço estreito, entre paredes cegas, que fazem com que se sinta, no âmbito da poesia, insignificante frente à força contida nas paredes e sem liberdade de seguir outro caminho, sem saber o que o espera logo depois.
O ato de se implantar diversas esculturas iguais, dispostas simetricamente lado a lado, na parte externa do edifício se torna um símbolo forte à medida que busca representar um grupo homogêneo fora de um local: as migrações dos judeus, as chamadas diásporas. Parece ser, dentro do lote do edifício, o único espaço que remete à vida, devido às plantas do local. Outro significado que se pode abstrair desse símbolo é a exclusão. Dispondo as esculturas fora do museu, temos uma imagem que representa também de forma poética a anulação participativa dos judeus na sociedade alemã nazista.
Conclusão
Daniel Libeskind faz com que cada detalhe de sua arquitetura seja passível de serem reinterpretados, faz das imagens difíceis de serem esquecidas. O visitante trafega dentro de um espaço que conta a história a cada passo e o faz fervilhar seus pensamentos, impulsionados por símbolos de um mito já desgastado de tão discutido. Porém, ao invés de simplesmente ser um mito monumentalizado por onde simplesmente se passa, vislumbra e se esquece, o Museu Judaico de Berlim impõe um tratamento mais humano à polêmica, fazendo com que o vivenciar de emoções transforme totalmente o visitante do museu ao deixar o edifício.
Mais imagens:
A imagem da esquerda, mostra bem como o arquiteto fez com que toda visão do visitante para fora do edifício fosse por meio de pequenas aberturas, fazendo com que o visitante se sinta como os próprios judeus sendo transportados para o campo de concentração. Na imagem da direita, um corredor estreito, escuro, que apesar de ter saída não lhe passa nenhuma segurança, pois não se sabe o que esperar.
Espero que tenham gostado! Um forte abraço!
Parabéns, sou estudante de arquitectura e adorei este artigo sobre o museu judaico!muito interessante.
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