Com o advento da vida moderna, o indivíduo passa a desejar uma autonomia e individualismo que faz de si mesmo um ser isolado. Isso parte da própria sociedade e de suas influências políticas, econômicas e sociais, permitindo ao homem assumir novas posturas, agregar novos valores e se lançar em novas possibilidades. A cidade reflete essa necessidade de autonomia e desejo das pessoas de serem donas de si, de assumirem seus próprios estilos, de se regerem por leis próprias; o mercado é reflexo da necessidade de individualismo do homem, de sua necessidade de ser peculiar, de ter identidade.
Mas é importante destacar que esse aspecto não é uniforme em todas as cidades, pois ainda nota-se a diferença entre as grandes e pequenas cidades no que se refere principalmente às relações pessoais e à vida cotidiana. Ao passo que nas cidades pequenas as pessoas tendem a manter “relacionamentos profundamente sentidos e emocionais”, o homem metropolitano desenvolve suas atividades corriqueiras com o máximo de proteção em relação ao outro, através de atitudes racionais ao invés de afetivas.
Esse medo do desconhecido que afeta as grandes cidades reflete-se inclusive nas atividades de consumo. A metrópole moderna vai ser impulsionada por uma produção e por um mercado que condiciona os compradores e vendedores ao anonimato, pois nunca terão contato visual. É o que acontece nas compras virtuais, por exemplo. É uma tendência que cresce cada vez mais, muitas vezes por questões de rapidez e facilidade nesse processo, e que ambos não precisam temer falhas nas relações pessoais.
Qualquer atitude brusca, rápidas mudanças ou excessiva pressão pode gerar o que o texto de Zimmel chama de atitude blasé. Nesse contexto entra a questão do julgamento pela aparência e pela nítida discriminação. Não existe relação emocional ou íntima nesse caso, as relações são puramente racionais, onde o outro é tratado com indiferença. No curta metragem Ângelo anda sumido, o personagem principal ora é lançado à marginalidade devido às suas atitudes de baderna, ora é tido como confiável, pois apresenta boa aparência física. O dinheiro entra então como o dominador dos valores, “arranca irreparavelmente a essência das coisas, sua individualidade, seu valor específico e sua imcomparabilidade”.
Esse estranhamento entre as pessoas é típico das cidades metropolitanas, pois para Zimmel poderia se chegar a um estado psíquico inimaginável se as relações pessoais nessas cidades fossem tão estreitas quanto o é nas cidades pequenas. O confinamento das pessoas é tão intenso, o homem torna-se tão isolado e envolto por grades e elevada proteção que é típico nessas cidades não se conhecer os próprios vizinhos ou criar desconfiança para com eles a fim de garantir a privacidade e o individualismo tão almejado. Mas essa reserva confere aos indivíduos uma liberdade pessoal, que não é possível ter em outras circunstâncias. Numa cidade pequena tal liberdade fica limitada ao passo que se conhece quase todos que se encontra. Nada que for feito nesse espaço passará despercebido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário