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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Serpente de Aço


O EDIFÍCIO DE 160 M DE COMPRIMENTO REPOUSA EM UM CAMPO AO NORTE DO JAPÃO. CRIAÇÃO DOS JOVENS ARQUITETOS YUI E TAKAHARU TEZUKA, A OBRA RECEBEU UMA COMENDA DO INSTITUTO DE ARQUITETOS JAPONÊS EM 2005

POR GIOVANNY GEROLLA FOTOS KATSUHISA KIDA

Localizada nas montanhas de Matsunoyama, região do distrito de Niigata, Japão, muito conhecida por suas fortes nevascas, Kyororo é palco de atividades educacionais e de pesquisa no campo das ciências naturais. Toda a região é também famosa por sua linda floresta de faias japonesas, que conseguem crescer com muita força apesar de sofrerem com a neve excessiva.

Em meio à paisagem, há uma serpente metálica que, nos meses de janeiro, fevereiro e março, permanece oculta sob uma manta branca de neve. É o edifício do Museu de Ciências Naturais de Matsunoyama, cujos 1,5 mil m2 assumem uma forma curvilínea, uniforme e contínua.

O conceito desenvolvido pelo escritório Tezuka Architects oferece ao visitante do museu a oportunidade de experimentar pelo contato com a edificação todos os fenômenos naturais característicos da região. É como se o próprio espaço físico do museu fizesse parte da natureza local, sendo ele mesmo ambiente para pesquisa e exposição dessa realidade exterior.

Assim, a construção foi planejada tanto para receber uma base permanente de pesquisas como para conter espaços para exposições e abertos ao público. A maior ênfase dada ao projeto arquitetônico foi incorporar os aspectos climáticos e ambientais da região ao conceito.

Para tanto, o prédio foi desenhado como um tubo duplo. Seu corpo monocromático é feito de placas de aço corten de seis milímetros de espessura, soldadas e capazes de suportar a pressão de uma tonelada e meia por metro quadrado - como um submarino sob as águas do oceano. O comprimento total do edifício é de 160 m.

A aparência da capa, resistente às intempéries, muda com o passar do tempo. Seis meses após a soldagem das placas, feita in loco, o corpo do prédio já apresentava uma cor marrom intensa e característica da ação do tempo sobre o metal. "Visto pelo outro lado do vale, o edifício parece mais uma ruína Inca, com sua enorme torre dominando o topo das árvores", descreve Takaharu Tezuka.

A estrutura do prédio é metálica e está preparada para suportar contrações e dilatações de até 20 cm em função da variação das temperaturas entre verão e inverno. As grandes placas metálicas que constituem a fachada também têm função estrutural, mas não foram suficientes para atender aos requisitos de cálculo estrutural: no inverno, as montanhas de neve podem ultrapassar sete metros de altura, o que exigiu uma estrutura superdimensionada para suportar cargas de até duas mil toneladas.

Como resultado, vigas e colunas metálicas carregam o peso do edifício e estão preparadas para suportar toda a neve que vai soterrá-lo nos meses mais frios de inverno. "Tivemos também de considerar o fator terremoto", lembra Tezuka. Assim, as paredes metálicas contribuem para a estabilidade do prédio, atuando como um reforço estrutural.

Em seção cruzada pendente (inclinada), a estrutura foi inspirada nos sheds de proteção encontrados nas estradas dos arredores. Já o plano horizontal segue o contorno das trilhas que circundam toda a área e abrem caminho aos carros e pedestres.

No inverno, os visitantes são conduzidos por altas paredes de neve e entram por um peculiar túnel que os protege contra a temperatura congelante de Kyororo. A amplitude do eixo interno e principal do edifício reflete o movimento de pessoas, promovendo grandes espaços em ângulos de onde os visitantes param para observar a natureza. À medida que se adentra o museu, esses ângulos tornam-se cada vez mais estreitos.

Outro ponto central na concepção arquitetônica são as quatro janelas panorâmicas, transparências que se estendem do piso ao forro, dispostas em posições angulares e estratégicas do edifício. A maior delas tem 14,5 m x 4 m e pesa quase quatro toneladas. O peso das quatro soma dez toneladas, e delas os visitantes podem admirar, como que em corte subterrâneo, a vida sob a neve.

Para suportar a pressão da neve e dar ao edifício uma isolação apropriada, todas as janelas são de acrílico, com espessuras que variaram entre 55 mm e 75 mm. Esse forte material tem 98% de transparência, o que aumentou a integração entre ambientes internos e externos.

"O acrílico foi o único material que encontramos para resistir à pressão de 1,5 tonelada por metro quadrado sobre as janelas", revela o arquiteto.

Ainda para ajustar a trabalhabilidade da fachada metálica às suas junções com as janelas acrílicas, optou-se por deixar uma folga de 100 mm entre o metal e o acrílico, permitindo os movimentos de dilatação e contração.

No verão, as grandes transparências que mostravam cortes do mundo sob a neve passam a exibir o maravilhoso cenário das faias japonesas e grandes áreas de cultivo de arroz. Da torre do museu, com 34 m de altura, os visitantes apreciam a magnífica vista sobre os arvoredos das três montanhas de Echigo.



Maquete de Estudo

Vista Lateral

Serpente de Aço no Inverno

Serpente de Aço no Inverno


Serpente de Aço durante o processo de construção - Inverno rigoroso de 2002

Serpente de Aço durante o processo de construção - Inverno rigoroso de 2002

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